terça-feira, 14 de junho de 2016

Terapia com estatina altera a composição da placa aterosclerótica – análise por histologia virtual.





Fundamentos: Vários estudos demonstraram redução de eventos clínicos com a terapia com estatinas. Isso parece estar associado a um efeito de regressão e estabilização da placa de ateroma. A ultrassonografia intracoronária (USIC) demonstrou a relação positiva entre a progressão da placa e o risco cardiovascular. Além disso, mostrou regressão do volume da placa coronária com o tratamento intensivo com estatinas. O presente estudo teve como objetivo avaliar o efeito do tratamento com essas drogas na composição da placa aterosclerótica utilizando o ultra-som com radiofreqüência (Histologia virtual – USIC-HV).

Métodos: Trata-se de estudo multicêntrico (11 centros no Japão), aberto, randomizado que incluiu 164 pacientes com angina estável ou instável, submetidos a angioplastia, para análise dos efeitos da terapia com pitavastatina (tratamento hipolipemiante intensivo) versus pravastatina (tratamento hipolipemiante moderado) na composição da placa aterosclerótica avaliada em seguimento invasivo aos 8 meses. O desfecho primário foi a mudança no volume de cada um dos 4 componentes da placa entre os grupos de tratamento. Os desfechos secundários incluíram 1) mudança no volume de ateroma e 2) eventos cardiovasculares adversos maiores. Pacientes em uso prévio de estatina foram excluídos. Foram analisadas placas proximais ou distais à lesão alvo tratada que tivessem pelo menos 50% de carga de placa e comprimento mínimo de 10 mm ao USIC.

Resultados: USIC-HV pré e pós tratamento foi obtido em 58 pacientes (71%) no grupo pitavastatina e 61 pacientes no grupo pravastatina (74%). O LDL colesterol foi reduzido significativamente em ambos os grupos, mas o nível de LDL no seguimento foi significativamente menor no grupo pitavastatina (74 vs 95 mg/dL, p<0,0001). Houve aumento significativo do HDL (12% pitavastatina vs. 11% pravastatina) e redução significativa da PCR (- 75%) em ambos os grupos. No grupo pitavastatina, houve redução significativa dos componentes fibrolipídico (de 1,09 para 0,81 mm3/mm, p=0,001) e fibroso (de 3,46 para 3,17 mm3/mm, p=0,003) assim como aumento significativo dos componentes calcificação (de 0,42 para 0,55 mm3/mm, p<0,0001) e necrose (de 0,68 para 0,92 mm3/mm, p=0,0002). No grupo pravastatina, o componente fibrolipídico diminuiu significativamente (de 1,05 para 0,83 mm3/mm, p=0,0008) com aumento da calcificação (de 0,44 para 0,55 mm3/mm, p=0,005). As mudanças nos componentes de fibrose e necrose não foram significativas. Não houve diferença na taxa de eventos clínicos entre os grupos.
Topo – aumento da ecodensidade da placa de ateroma do basal (esquerda) para o seguimento (direita) observado na escala de cinza do USIC. Abaixo – Redução do componente fibrolipídico e aumento da calcificação e necrose na placa de ateroma do basal (esquerda) para o seguimento (direita) observado na histologia virtual.

Conclusões: O tratamento com ambas as drogas reduziu de forma significativa o componente fibrolipídico e aumentou o componente de calcificação da placa aterosclerótica.

Comentários: Este interessante estudo traz informações a respeito da ação das estatinas na placa ateromatosa e seu papel como estabilizadoras da placa vulnerável. Sabe-se que a progressão da placa ocorre primariamente por aumento nos componentes fibroso e fibrolipídico. Assim, o estudo mostra que as estatinas podem alterar os estágios iniciais do acúmulo lipídico, particularmente o componente fibrolipídico, que parece ser um passo reversível no processo de aterosclerose. Esses achados sugerem que o efeito clínico benéfico visto com as estatinas pode estar relacionado à redução das células espumosas na parede arterial enquanto a progressão natural da maturação da placa (aumento da calcificação) continua. A falta de ação sobre o componente necrótico pode ter sido devido ao seguimento precoce de 8 meses ou ao fato de a necrose ser um passo irreversível do processo aterosclerótico, imune à ação das estatinas.




Elinardo Santos

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