Fundamentos:
Vários estudos
demonstraram redução de eventos clínicos com a terapia com
estatinas. Isso parece estar associado a um efeito de regressão e
estabilização da placa de ateroma. A ultrassonografia
intracoronária (USIC) demonstrou a relação positiva entre a
progressão da placa e o risco cardiovascular. Além disso, mostrou
regressão do volume da placa coronária com o tratamento intensivo
com estatinas. O presente estudo teve como objetivo avaliar o efeito
do tratamento com essas drogas na composição da placa
aterosclerótica utilizando o ultra-som com radiofreqüência
(Histologia virtual – USIC-HV).
Métodos:
Trata-se de estudo
multicêntrico (11 centros no Japão), aberto, randomizado que
incluiu 164 pacientes com angina estável ou instável, submetidos a
angioplastia, para análise dos efeitos da terapia com pitavastatina
(tratamento hipolipemiante intensivo) versus pravastatina (tratamento
hipolipemiante moderado) na composição da placa aterosclerótica
avaliada em seguimento invasivo aos 8 meses. O desfecho primário foi
a mudança no volume de cada um dos 4 componentes da placa entre os
grupos de tratamento. Os desfechos secundários incluíram 1) mudança
no volume de ateroma e 2) eventos cardiovasculares adversos maiores.
Pacientes em uso prévio de estatina foram excluídos. Foram
analisadas placas proximais ou distais à lesão alvo tratada que
tivessem pelo menos 50% de carga de placa e comprimento mínimo de 10
mm ao USIC.
Resultados:
USIC-HV pré e pós
tratamento foi obtido em 58 pacientes (71%) no grupo pitavastatina e
61 pacientes no grupo pravastatina (74%). O LDL colesterol foi
reduzido significativamente em ambos os grupos, mas o nível de LDL
no seguimento foi significativamente menor no grupo pitavastatina (74
vs 95 mg/dL, p<0,0001). Houve aumento significativo do HDL (12%
pitavastatina vs. 11% pravastatina) e redução significativa da PCR
(- 75%) em ambos os grupos. No grupo pitavastatina, houve redução
significativa dos componentes fibrolipídico (de 1,09 para 0,81
mm3/mm, p=0,001) e fibroso (de 3,46 para 3,17 mm3/mm, p=0,003) assim
como aumento significativo dos componentes calcificação (de 0,42
para 0,55 mm3/mm, p<0,0001) e necrose (de 0,68 para 0,92 mm3/mm,
p=0,0002). No grupo pravastatina, o componente fibrolipídico
diminuiu significativamente (de 1,05 para 0,83 mm3/mm, p=0,0008) com
aumento da calcificação (de 0,44 para 0,55 mm3/mm, p=0,005). As
mudanças nos componentes de fibrose e necrose não foram
significativas. Não houve diferença na taxa de eventos clínicos
entre os grupos.
- Topo – aumento da ecodensidade da placa de ateroma do basal (esquerda) para o seguimento (direita) observado na escala de cinza do USIC. Abaixo – Redução do componente fibrolipídico e aumento da calcificação e necrose na placa de ateroma do basal (esquerda) para o seguimento (direita) observado na histologia virtual.
Conclusões: O
tratamento com ambas as drogas reduziu de forma significativa o
componente fibrolipídico e aumentou o componente de calcificação
da placa aterosclerótica.
Comentários:
Este interessante
estudo traz informações a respeito da ação das estatinas na placa
ateromatosa e seu papel como estabilizadoras da placa vulnerável.
Sabe-se que a progressão da placa ocorre primariamente por aumento
nos componentes fibroso e fibrolipídico. Assim, o estudo mostra que
as estatinas podem alterar os estágios iniciais do acúmulo
lipídico, particularmente o componente fibrolipídico, que parece
ser um passo reversível no processo de aterosclerose. Esses achados
sugerem que o efeito clínico benéfico visto com as estatinas pode
estar relacionado à redução das células espumosas na parede
arterial enquanto a progressão natural da maturação da placa
(aumento da calcificação) continua. A falta de ação sobre o
componente necrótico pode ter sido devido ao seguimento precoce de 8
meses ou ao fato de a necrose ser um passo irreversível do processo
aterosclerótico, imune à ação das estatinas.
Fonte
de pesquisa:
http://sbhci.org.br/artigos-comentados/terapia-com-estatina
Elinardo
Santos
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