Os inibidores da hidroximetilglutaril-coenzima-A (HMG-CoA) redutase, também conhecidos como
estatinas, são os fármacos mais potentes e eficazes para reduzir o LDL colesterol. Desde que foram aprovados
para uso no tratamento da hipercolesterolemia pela FDA, em 1987, diversos estudos clínicos vêm demonstrando
que esses medicamentos são capazes de reduzir eventos cardiovasculares, quer na prevenção primária quer na
prevenção secundária da doença arterial coronariana (SHEPHERD et al., 1995).
A HMG-CoA redutase é uma enzima que catalisa a conversão da HMG-CoA a ácido mevalônico,
precursor do colesterol. Esta enzima é alvo para a intervenção farmacológica porque ela atua na biossíntese do
colesterol. Em nível celular, portanto, as estatinas inibem a conversão da HMG-CoA para mevalonato e como
conseqüência, a síntese celular do colesterol (CORSINI et al., 1999). De modo geral, são bem tolerados, porém
alguns pacientes podem desenvolver toxicidade hepática e/ou muscular, em graus variados. Com relação aos
efeitos tóxicos sobre a musculatura esquelética, a complicação mais séria observada com o uso dessas
medicações é a rabdomiólise (PASTERNAK et al., 2002), em que pese a dificuldade em se conceituar
adequadamente a rabdomiólise (MAGALHÃES, 2005). te a rabdomiólise (MAGALHÃES, 2005).
A FDA avaliou 3.339 casos de rabdomiólise relacionada ao uso de estatina entre janeiro de 1990 e
março de 2002. A cerivastatina foi a estatina que mais apresentou problemas (THOMPSON et al., 2003). O
mecanismo exato pelo qual as estatinas podem causar a rabdomiólise não se encontra ainda completamente
esclarecido. Diversas hipóteses são possíveis: depleção de metabólitos intermediários da síntese do colesterol
(reduzindo os níveis de ácido mevalônico), induzem a apoptose celular e podem causar alterações nos canais de
condutância ao cloro dentro dos miócitos (MAGALHÃES, 2005).
Observações recentes com a cerivastatina demonstraram que a administração de mevalonato foi capaz
de melhorar os efeitos tóxicos causados pela cerivastatina, sugerindo que as ações deletérias deste fármaco
podiam ser devidas à redução desses compostos intermediários, particularmente o ácido mevalônico, mais do que
a ação tóxica direta da mesma (GEMICI et al., 2001).
Outra possível explicação para a toxicidade muscular das estatinas se relaciona com os canais de cloro
intracelular. Essas estruturas, no músculo, são responsáveis pela hiperpolarização da célula e como
conseqüência, do seu relaxamento. Modificações na permeabilidade da membrana celular também podem resultar
do bloqueio desse sistema (IGEL et al., 2001). Têm sido descritas alterações nas propriedades da membrana
celular com a utilização desses medicamentos. Algumas estatinas, mais lipofílicas, podem atravessar mais facilmente a membrana celular em função dessas alterações e, por conseguinte, resultar em maior potencial para
o desenvolvimento de agressão muscular (MAGALHÃES, 2005).
Além disso, muitos casos de rabdomiólise ocorreram concomitantemente com outras doenças (como por
exemplo, a insuficiência renal) ou sendo associado com outro fármaco (por exemplo, gemfibrozil, o qual foi
responsável por 31 das 52 mortes registradas nos Estados Unidos). Em outros casos, a cerivastatina era usada na
dose de 0,8 mg por dia, aprovada pela FDA para uso clínico, mesmo sendo uma dose mais elevada daquela
recomendada pelo fabricante para iniciar o tratamento.
Fonte:REF - ISSN 1808-0804 Vol. VI (1), 14 - 24, 2009
FÁRMACOS: DO DESENVOLVIMENTO À RETIRADA DO MERCADO. Revista eletrônica de farmácia.
Thaynara Albuquerque
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