Análise do medicamento
As concentrações plasmáticas de ciprofibrato foram determinadas por cromatografia líquida de alta eficiência em fase reversa com detecção por espectrometria de massas (CLAE-MS/MS). Os analitos foram extraídos do plasma por meio de extração líquido-líquido, utilizando bezafibrato como padrão interno. O método foi devidamente validado com faixa de linearidade de 200 a 50.000 ng/mL. Para evitar variações interensaio, todas as amostras de um mesmo voluntário foram analisadas na mesma corrida analítica.O parâmetro de detecção empregado foi a razão massa/carga (m/z) entre os íons precursor e produto e o parâmetro de quantificação foi a área sob o pico do cromatograma identificado no tempo de retenção. As concentrações dos fármacos nas amostras de voluntários foram calculadas através da interpolação na curva de calibração.
A análise cromatográfica foi realizada em um HPLC 1200 Series com coluna ACE 5 C18, 50 x 4,6 mm, com fluxo de 1,0 mL/min. A coluna foi operada a temperatura de 20°C, enquanto o autoinjetor se manteve a temperatura ambiente. A fase móvel utilizada foi acetonitrila e tampão acetato de amônio 2 mM com 0,025% de ácido fórmico, na proporção 70:30 (v/v). O volume de injeção foi 5 mL e o tempo total de corrida foi fixado em 1,5 minuto. O espectrômetro de massas operou em modo de ionização electrospray positivo (ESI+).
Análise farmacocinética e estatística
Os parâmetros farmacocinéticos do ciprofibrato foram calculados empregando-se modelo não compartimental, utilizando os softwares Phoenix WinNonLin e Microsoft Excel. Estes parâmetros foram obtidos diretamente das curvas individuais de concentração plasmática versus tempo e analisados estatisticamente para determinação da bioequivalência.A área sob a curva de concentração plasmática versus tempo foi calculada pelo método dos trapezoides, do tempo zero ao tempo t (AUC0-72), onde t é o tempo relativo à última concentração determinada experimentalmente (72 horas). O pico de concentração plasmática máxima (Cmax) do ciprofibrato e o tempo para atingir este pico (Tmax) foram obtidos diretamente sem interpolação dos dados.
Para avaliação da bioequivalência entre as duas formulações foram empregados os parâmetros AUC0-72 e Cmax. Não houve nenhuma exclusão de voluntários cujos parâmetros pareceram discrepantes quando comparados com os demais.
Foi construído um Intervalo de Confiança (IC) de 90% para a diferença das médias dos dados transformados dos medicamentos teste e referência, para os parâmetros ASC0-72 e Cmax. O antilogaritmo do IC obtido constituiu o intervalo com 90% de confiança para a razão das médias geométricas dos parâmetros primários. Os medicamentos são considerados bioequivalentes se os extremos do intervalo de confiança construído para as médias geométricas forem maiores do que 80% e menores que 125%.
Resultado
Análise de tolerabilidade
O ciprofibrato foi bem tolerado na dose administrada. Os parâmetros laboratoriais não demonstraram qualquer alteração clinicamente significante. Nenhum evento adverso sério foi observado.Análise farmacocinética e estatística
Os perfis farmacocinéticos obtidos plotando-se a concentração plasmática de ciprofibrato versus tempo das formulações teste e referência estão demonstrados na Figura 1. Observa-se que as duas curvas são semelhantes e praticamente superponíveis.As medidas centrais e de dispersão para todos os parâmetros farmacocinéticos de ambas formulações são mostradas na Tabela 1. A partir disso, obteve-se o valor médio de Cmax de 22.969 (17.603 - 32.764) ng/mL para a formulação referência e 20.566 (12.961 - 29.302) ng/mL para a formulação teste. Para Tmax (h) foram encontrados valores de 1,80 (0,50 - 4,50) hora e 1,84 (0,50 - 4,50) hora para o medicamento referência e teste, respectivamente. Os valores médios de ASC0-72 encontrados foram de 587.366 (377.685 - 907.410) ng.h/mL para o produto referência e 568.762 (388.122 - 783.805) ng.h/mL para o produto teste.
A Tabela 2 apresenta as razões e os respectivos intervalos de confiança para a análise da bioequivalência.
Figura 1 - Curvas plasmáticas de ciprofibrato obtidas após administração oral em dose única (100 mg) dos medicamentos teste e referência.
Discussão
A dislipidemia aterogênica se caracteriza por elevadas concentrações plasmáticas de lipoproteínas de baixa densidade (LDL) com predomínio de formas pequenas e densas e de triglicerídeos, além de baixos níveis de lipoproteínas de alta densidade (HDL). A hiperlipidemia é a principal causa da aterosclerose e outras patologias associadas, como doença cardíaca coronariana, doença cerebrovascular isquêmica e doença vascular periférica(9,10). Essa condição é uma preocupação de ordem global que atinge vários países. De acordo com dados do Ministério da Saúde, 30% da população brasileira apresenta hipercolesterolemia e grande parte dos pacientes não controlam ou tratam a doença adequadamente(11).
O tratamento não medicamentoso da hiperlipidemia envolve mudança dos hábitos de vida dos pacientes, tais como adoção de dieta hipolipêmica, redução do peso e prática regular de exercício físico. A terapia medicamentosa pode ser associada a essas medidas para maior eficácia do tratamento(9,11). A classe dos fibratos é constituída de fármacos que reduzem os níveis de triglicerídeos e de LDL e aumentam os níveis de HDL. Além disso, são eficazes redutores da taxa de formação das placas ateroscleróticas. Tais efeitos são mediados pela estimulação dos receptores nucleares ativados de proliferação dos peroxissomas-alfa, conhecidos como PPAR-a. Esse estímulo aumenta a produção e a ação da lipase lipoproteica, que é responsável pela hidrólise intravascular dos triglicerídeos. Além disso, diminuem a síntese de VLDL devido ao estímulo da beta- oxidação dos ácidos graxos no fígado, reduzindo a produção de triglicerídeos(12).
Considerando a elevada incidência mundial da hiperlipidemia e o impacto deste distúrbio nos índices de saúde pública, torna-se imprescindível disponibilizar medicamentos de qualidade e de custo acessível para a população. O ciprofibrato é um modulador lipídico de amplo espectro, largamente utilizado para o controle de concentrações elevadas do colesterol LDL e VLDL e dos triglicerídeos, além de aumentar o nível do colesterol HDL(1).
O método bioanalítico por CLAE-MS/MS desenvolvido para quantificação de ciprofibrato em plasma humano, utilizando bezafibrato como padrão interno, foi validado quanto ao efeito matriz, especificidade, recuperação, linearidade, limite de quantificação, exatidão, precisão e estabilidade do analito em plasma, atendendo aos requisitos da Resolução RE nº 899, de 29 de maio de 2003(13). O método se mostrou sensível e seletivo para quantificação do ciprofibrato em plasma, além de apresentar a vantagem de ser consideravelmente rápido, uma vez que o tempo de corrida foi apenas 1,5 minuto, o que permite a análise de um grande número de amostras em tempo reduzido.
Dois medicamentos são considerados bioequivalentes se as suas quantidades e velocidades de absorção não apresentam diferenças estatisticamente significativas, quando administrados a mesma dose molar do princípio ativo, sob as mesmas condições experimentais(14). Neste estudo a biodiponibilidade relativa de duas formulações de ciprofibrato foram avaliadas. A razão média dos parâmetros de Cmax e ASC0-72 e dos intervalos de confiança de 90% dos medicamentos foi calculada para determinar-se a bioequivalência. No caso de fármacos que apresentam meia-vida de eliminação longa (superior a 24 horas) a ANVISA, por meio da Resolução RE n° 1170 de 19 de abril de 2006(15), recomenda que seja utilizado um cronograma de coletas de no mínimo de 72 horas, que possibilite a determinação da área sob a curva truncada (ASC0-72). Uma vez que o ciprofibrato possui longa meia-vida de eliminação (cerca de 80 horas), foi realizado o truncamento da curva, com o último ponto de coleta em 72 horas após administração dos medicamentos.
Conforme apresentado na Tabela 2, os intervalos de confiança obtidos para os parâmetros farmacocinéticos determinantes da bioequivalência (Cmax e ASC0-72) das formulações de ciprofibrato se mostraram dentro dos limites de equivalência preestabelecidos pela ANVISA (80-125%) na Resolução RE nº 1170 de 19 de abril de 2006(15). Para o parâmetro Tmax (dados não transformados para Ln), em nível de 5% de significância, não foi verificada a presença de efeito significante para o fator "formulação". Desse modo, considera-se que as formulações avaliadas apresentam aproximadamente o mesmo Tmax.
Além dos intervalos de confiança, os resultados indicaram também que o poder do teste, calculado para os parâmetros avaliados (a posteriore), superou o valor mínimo desejado ainda no estágio de planejamento (poder > 80%). Os altos valores de poder encontrados (100%) reforçaram as evidências de bioequivalência entre as formulações de ciprofibrato, adotando o critério de decisão de ±20% em relação à formulação de referência.
Considerando os resultados farmacocinéticos e estatísticos obtidos no presente estudo, conclui-se que os medicamentos teste (ciprofibrato 100 mg - Aché Laboratórios Farmacêuticos S/A) e referência (Oroxadin® 100 mg - Sanofi-Aventis Farmacêutica Ltda.), ambos sob a forma de comprimidos simples, são bioequivalentes e, portanto, intercambiáveis.
Fonte: Artigo Original
Estudo de bioequivalência entre duas formulações de
ciprofibrato 100 mg comprimidos em voluntários sadios após administração de dose única
Tatiane da silva vieira
Figura 1 - Curvas plasmáticas de ciprofibrato obtidas após administração oral em dose única (100 mg) dos medicamentos teste e referência.
Discussão
A dislipidemia aterogênica se caracteriza por elevadas concentrações plasmáticas de lipoproteínas de baixa densidade (LDL) com predomínio de formas pequenas e densas e de triglicerídeos, além de baixos níveis de lipoproteínas de alta densidade (HDL). A hiperlipidemia é a principal causa da aterosclerose e outras patologias associadas, como doença cardíaca coronariana, doença cerebrovascular isquêmica e doença vascular periférica(9,10). Essa condição é uma preocupação de ordem global que atinge vários países. De acordo com dados do Ministério da Saúde, 30% da população brasileira apresenta hipercolesterolemia e grande parte dos pacientes não controlam ou tratam a doença adequadamente(11).
O tratamento não medicamentoso da hiperlipidemia envolve mudança dos hábitos de vida dos pacientes, tais como adoção de dieta hipolipêmica, redução do peso e prática regular de exercício físico. A terapia medicamentosa pode ser associada a essas medidas para maior eficácia do tratamento(9,11). A classe dos fibratos é constituída de fármacos que reduzem os níveis de triglicerídeos e de LDL e aumentam os níveis de HDL. Além disso, são eficazes redutores da taxa de formação das placas ateroscleróticas. Tais efeitos são mediados pela estimulação dos receptores nucleares ativados de proliferação dos peroxissomas-alfa, conhecidos como PPAR-a. Esse estímulo aumenta a produção e a ação da lipase lipoproteica, que é responsável pela hidrólise intravascular dos triglicerídeos. Além disso, diminuem a síntese de VLDL devido ao estímulo da beta- oxidação dos ácidos graxos no fígado, reduzindo a produção de triglicerídeos(12).
Considerando a elevada incidência mundial da hiperlipidemia e o impacto deste distúrbio nos índices de saúde pública, torna-se imprescindível disponibilizar medicamentos de qualidade e de custo acessível para a população. O ciprofibrato é um modulador lipídico de amplo espectro, largamente utilizado para o controle de concentrações elevadas do colesterol LDL e VLDL e dos triglicerídeos, além de aumentar o nível do colesterol HDL(1).
O método bioanalítico por CLAE-MS/MS desenvolvido para quantificação de ciprofibrato em plasma humano, utilizando bezafibrato como padrão interno, foi validado quanto ao efeito matriz, especificidade, recuperação, linearidade, limite de quantificação, exatidão, precisão e estabilidade do analito em plasma, atendendo aos requisitos da Resolução RE nº 899, de 29 de maio de 2003(13). O método se mostrou sensível e seletivo para quantificação do ciprofibrato em plasma, além de apresentar a vantagem de ser consideravelmente rápido, uma vez que o tempo de corrida foi apenas 1,5 minuto, o que permite a análise de um grande número de amostras em tempo reduzido.
Dois medicamentos são considerados bioequivalentes se as suas quantidades e velocidades de absorção não apresentam diferenças estatisticamente significativas, quando administrados a mesma dose molar do princípio ativo, sob as mesmas condições experimentais(14). Neste estudo a biodiponibilidade relativa de duas formulações de ciprofibrato foram avaliadas. A razão média dos parâmetros de Cmax e ASC0-72 e dos intervalos de confiança de 90% dos medicamentos foi calculada para determinar-se a bioequivalência. No caso de fármacos que apresentam meia-vida de eliminação longa (superior a 24 horas) a ANVISA, por meio da Resolução RE n° 1170 de 19 de abril de 2006(15), recomenda que seja utilizado um cronograma de coletas de no mínimo de 72 horas, que possibilite a determinação da área sob a curva truncada (ASC0-72). Uma vez que o ciprofibrato possui longa meia-vida de eliminação (cerca de 80 horas), foi realizado o truncamento da curva, com o último ponto de coleta em 72 horas após administração dos medicamentos.
Conforme apresentado na Tabela 2, os intervalos de confiança obtidos para os parâmetros farmacocinéticos determinantes da bioequivalência (Cmax e ASC0-72) das formulações de ciprofibrato se mostraram dentro dos limites de equivalência preestabelecidos pela ANVISA (80-125%) na Resolução RE nº 1170 de 19 de abril de 2006(15). Para o parâmetro Tmax (dados não transformados para Ln), em nível de 5% de significância, não foi verificada a presença de efeito significante para o fator "formulação". Desse modo, considera-se que as formulações avaliadas apresentam aproximadamente o mesmo Tmax.
Além dos intervalos de confiança, os resultados indicaram também que o poder do teste, calculado para os parâmetros avaliados (a posteriore), superou o valor mínimo desejado ainda no estágio de planejamento (poder > 80%). Os altos valores de poder encontrados (100%) reforçaram as evidências de bioequivalência entre as formulações de ciprofibrato, adotando o critério de decisão de ±20% em relação à formulação de referência.
Considerando os resultados farmacocinéticos e estatísticos obtidos no presente estudo, conclui-se que os medicamentos teste (ciprofibrato 100 mg - Aché Laboratórios Farmacêuticos S/A) e referência (Oroxadin® 100 mg - Sanofi-Aventis Farmacêutica Ltda.), ambos sob a forma de comprimidos simples, são bioequivalentes e, portanto, intercambiáveis.
Fonte: Artigo Original
Estudo de bioequivalência entre duas formulações de
ciprofibrato 100 mg comprimidos em voluntários sadios após administração de dose única
Tatiane da silva vieira